Em relação à importância dos programas de doutoramento e o seu impacto na estabilidade económica dos seus diplomados, a experiência do Reino Unido ilustra, a partir desta peça de pesquisa publica pela LSE que, individualmente, o doutoramento oferece mais benefícios pecuniários do que o mestrado, mas esta conclusão é beliscada quando os custos da formação são pagos pelo próprio estudante.
Esta reflexão nos leva a questionar também sobre a abertura de cursos de pós-graduação em Moçambique. Actualmente e segundo os dados estatísticos mais recentes e disponíveis do Ministério de tutela, Moçambique tem uma população discente de 237 779, sendo que os cursos de licenciatura são os que mais absorvem estudantes, com 96,1%, seguido dos mestrados (3,6%) e doutoramentos (0.,3%). Ainda segundo estes dados, as instituições públicas do ensino superior têm uma cota de 57,1%, tornando-se ainda a primeira preferência da maior parte dos candidatos.
Distribuição de estudantes do ensino superior em Moçambique, por grau académico (MCTES, 2021).
Algumas questões:
- Até que ponto esta experiência poderá servir na análise da abertura massiva de cursos de pós-graduação em Moçambique?
- De que forma a formação pós-graduada impacta o cidadão após a formação?
- Será que a realidade económica moçambicana requer mais doutores ou mestres? De que áreas?
- Que impacto se espera obter para a economia?
- Será justo pensar que as STEM´s têm prioridade no acesso à recursos em relação às ciências sociais e humanidades?
Equidade no Acesso
Adicionalmente às questões levantadas acima, a distribuição do corpo discente do ensino superior é altamente desigual, na medida em que 56,1% da população de estudantes está concentrada nas três províncias do Sul do País. A desigualdade na distribuição de estudantes é ainda mais notória se se considerar que, das 56 IES públicas, 38 estão localizadas (têm as suas sedes) nas três províncias do Sul, ou seja, perto de sete em cada 10 IES públicas estão concentradas no Sul que, aliás, absorve também a maior percentagem de IES públicas (59,1%) e privadas (73,5%).
Distribuição das instituições de ensino superior (IES) Moçambique, por província (MCTES, 2021).
Curiosamente, a região sul do País tem apenas 6 551 habitantes que correspondem apenas a 20,7% do total de habitantes do País e possui, segundo dados do Levantamento Estatístico 3 de Março de 2023, apenas 37,2% do total de alunos do segundo ciclo do ensino secundário (potenciais candidatos ao ensino superior).
Distribuição dos alunos do II ciclo do ensino secundário geral em Moçambique, por província (MINEDH, 2023).
A reflexão sobre o acesso equitativo ao ensino superior, reduzindo as enormes disparidades regionais que se perpetuam mesmo com algumas iniciativas institucionais de acção afirmativa, merece mais atenção.
Não será possível desenvolver um ensino superior robusto no País com estas desigualdades.
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